domingo, 19 de agosto de 2012

O pouco que sobrou

Sorriu deliciada de prazer. Era sua sombra quem lhe dizia que a perdição era só o começo.
E foram tantas noites de desespero, tantas lágrimas desperdiçadas, pra quê?
Soltou uma gargalhada atônita. Estava louca, era louca. Tinha desistido ou tinha começado a viver?
Embriagou-se com a própria risada. Sentia que nunca estivera tão bem quanto àquele momento. Talvez por isso ria, de uma forma um tanto quanto desesperada, mas ria.
A dúvida ainda pairava, mas também, de que adiantava tanta precaução?
Pensou: "foda-se", disse: "foda-se", e riu mais alto, porque nunca tinha agido dessa forma 'repugnante' aos seus próprios princípios. Tão cheia de si e tão cheia de drama. Ridícula.
Jurava que sabia que sua própria loucura era consequência de uma mudança. E soava patética ao repetir à si mesma que o silêncio lhe faria bem.
Sorriu porque se deu conta de que sua necessidade ao mundo era carnal. Sorriu porque sabia que julgar-se vítima era ridículo se podia aproveitar-se de tudo que lhe viesse para o bem ou mal.
Riu porque agora o vazio lhe fazia bem. Riu porque usou e foi usada, sempre e sempre. E riu porque não havia mais nada a se perder, do pouco que sobrou...

sábado, 11 de agosto de 2012

Baú

Dentro e fora do baú só havia poeira acumulada.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Areia, pedra, barro

Construída em um monte de areia, feita de pedra, grande e imponente. Esse era o retrato daquela imagem imaginária. Era como ela própria se via.
Era feita de pedra, mas por dentro só havia um enorme espaço vazio. Com qual finalidade aquilo serviria? Era pra esconder do mundo as coisas obscuras que se passavam por dentro daquela fortaleza de mármore, ou era simplesmente um reflexo de sua ausência de alma?
Construída em mármore, mas sobre a areia instável. Grande e imponente, de maneira que a queda fosse muito mais dolorosa que sua construção.
O que era aquilo? Uma estátua ou um humano?
Estava caindo, sentia-se cair. O tempo não perdoava cada momento de angústia que a ausência de seu coração causava, passava-lhe em câmera lenta, como a rir da desgraça de pedra.
Grande e imponente por fora, ou eram só os seus olhos que assim enxergavam?
Tão grande era o seu ego... tão fraca era si mesma...
Era feita de pedra, mas sobre a areia instável derreteu-se e tornou-se barro.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Seus olhos descreviam um vazio interno, eterno. Eram só seus olhos ou seu corpo também refletia seu silêncio?