segunda-feira, 30 de abril de 2012

Conto da madrugada

Ela voltara a sonhar. Era tão tola quanto sempre fora. Era tão inocente e tão fraca...
Qual amor que sentira que não fora tão decepcionante quanto sempre? Quantos amores deveria ter para enfim se dar conta de sua plena solidão?
Ah! Como queria trazer seus pedaços estilhaçados do que um dia chamara de coração, como queria deixar escapar ao vento o pó que se tornara, como cinzas de um defunto qualquer...
Ela voltara a sonhar, mas errara. E seu erro era tão tolo quanto outro qualquer que tivesse cometido. O amor da humanidade é uma mentira, assim diria o poeta. E a verdade tão dolorosa quanto a fantasia...
O que era pior? Viver esperando ou esperar vivendo? A espera sempre fora triste.
Erros e erros, quantos foram? Quantos mais haveriam de ser? Por quanto tempo mais poderia aguentar aquele vazio indisposto dentro de sua alma? Por quanto tempo viveria se encobrindo com uma frágil cúpula em volta de si mesma?
Medos e medos, era só o que sentia. Medo do amor, medo da solidão, medo de si, medo do mundo...
Ela voltara a sonhar, mas talvez nunca tivesse parado.
Pobre garota solitária...

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Móveis

Aquela mesa nunca poderia ser mais compreensível que agora. Fato engraçado, talvez até bobo demais. Afinal, o que de especial haveria naquela pedra fria?
A frieza, firme e clara. Como uma pedra. Sua única justificativa.

Conto vespertino

Ela acordou e pensou: "Por que tantos elas?". Ela levantou sem mais, não sabia o que fazer, não sabia se devia dever o que não devia. Tão confusa e cheia de sentimentos...
Ela era assim, sempre fora. Um tanto ela mesma, outro tanto um pouco perdida.
Seu silêncio era um constante desperdício, sua revolta era tão intensa, mas tão interna quanto, que, a qualquer momento poderia explodir. Não havia razão...nunca houvera.
E se o espelho lhe mostrasse qual caminho seguir? E se o espelho fosse seu único caminho?
Achar um erro em si não era difícil. O difícil era corrigir-se, esforçar-se para nunca errar. Talvez mais possível que pudesse achar, o impossível era tão viável quanto. E assim sua mente permanecia envolta de problemas corriqueiros, tão minimalistas quanto qualquer ruído que pudera ouvir...
Mas ela não ligava para a solidão. A garota era só, e ela escolheu se esquivar de toda a sorte da investida de quem quer que fosse. Ou talvez só fingisse não se importar. E todo aquele medo que escondera era só pra estar tão protegida quanto haveria de estar...