domingo, 3 de julho de 2011

Nostalgia

E o silêncio lhe tomou a fala. Talvez fosse melhor assim. Sem palavras e sem receios.
O mundo era tal como o via: às vezes azul, às vezes imaginário, às vezes trágico. Mas na maioria das vezes, era simplesmente sereno. Sereno e melancólico. Uma espera constante por mudança. Não. Mais que espera, era um desejo, um sonho irreal e impossível e inimaginário e fatídico.
Ah! Quantas vezes estivera preso ao passado...Buscando o quê? O trauma que o vestira? O medo que lhe consumira a alma? E se este fosse apenas um fantasma? Parecia-lhe muito mais plausível.
O fantasma da eterna esperança. Maldita caixa de Pandora.
O silêncio consumiu-lhe o tempo...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

No meio do caminho

Aquela pedra no caminho sempre me fazia lembrar coisas das quais quisera eu esquecer. Meticulosamente, ela se instalava em meus pensamentos cotidianos sobre meus pequenos problemas pessoais.
Talvez pedra, por lembrar peso. Talvez pedra, por parecer obstáculo. Talvez pedra, por ser uma matéria-prima. Matéria-prima? Sim, a tosca pedra que se "fazia fazer" deuses, imagens, estátuas, enfim. A mesma pedra que acompanharia o solitário Bidu, em sua trajetória de vida: Drª. Rocha, psicóloga PHD.
Mas afinal, rocha é pedra. E pedra é só uma "coisa" que a natureza resolveu "colocar" sobre a calçada, atrapalhando minha passagem rumo à vida.
Mas caso a pedra resolva me comunicar o que é que tanto a aflige, estarei disposta a ouvi-la. Trocaremos os papéis: a pedra será o Bidu e eu serei a pedra.
Só me resta esperar.


    No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra (pequena, insignificante)
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

 Carlos Drummond de Andrade

Conto descontente

Acordei cansado e vazio. Parecia-me que o 2012, enfim, havia se pronunciado sob minha sombra taciturna. Tantos planos, tantos sonhos. E quantos, afinal, havia conquistado?
Só o que me restava era o silêncio aterrador da vida, que criei em torno de ilusões. Quem seria o mártir de meus vis pensamentos? Quem, o carrasco de meus pesadelos?
A parede fria, parecia ter mais vida que meu próprio eu. Quantos segredos ela guardava? Quantas frustrações ela me assistia?
Talvez eu estivesse louco...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Garota platônica

Tinha três amores platônicos.
E todos moravam em Plutão.
O primeiro aconteceu em meados de outubro, já nas primeiras flores da "primavera". Como saberia o que era aquilo? Tristeza misturada com saudade de quem nunca tinha visto.
O segundo foi o amor das loucuras, dos grandes sonhos, do forte desejo de liberdade. Mas também o mais triste e desolador.
O terceiro, último e atual, era uma lembrança. A terna e doce lembrança de um passado esquecido por todos, menos por ela... pobre garota melancólica. Era um sonho, sonho bobo, por assim dizer, sonho infantil. Seu último amor platônico poderia ser uma brisa, ou o cheiro de chuva, ou fotos, ou lembranças...
Queria permanecer assim pra sempre, mas sentia falta da realidade.
Era uma eterna garota platônica, repleta de amores platônicos...