quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Mais um dia daqueles

O sol infernal brilhava lá fora, como a sorrir de uma felicidade desconhecida. Seus raios fulmegantes ferviam as calçadas pintadas de branco, parecia ser proposital, para cegar os olhos de qualquer transeunte.
Um semáforo, dois carros, depois três e, assim, uns milisegundos parado dando a impressão de um constante atraso.
Tinha raiva de dias como esse. Ah! Se tinha!
Caminhar por quarenta minutos todos os dias, fazendo o mesmo trajeto e sem pausa para uma sombra... Que Deus quisesse que fosse rico, e que os pés lhe fossem rodas, subtraindo, dessa forma, todo o tempo perdido naquela fatigada caminhada.
Sorriu de si mesmo, já estava habituado perder-se em fúteis pensamentos.
Uma leve brisa acariciou-lhe a face. Seria esse um motivo para agradecer? Mas a quem agradeceria? A Deus, que por incrível que pareça, era o foco do agradecimento humano, por mais miserável que fosse a vida? Não, bastava afirmar sua existência, mas agradecer?
Tinha gratidão por sua família, sim, que o tornara uma pessoa consciente e responsável. Que deuses e que santos ficassem pra trás, a vida corre, não há tempo a perder com isso.
O agudo da buzina lhe fez despertar do breve momento nostálgico, melhor parar com ideias tolas, pensou.
Parou na frente de um velho estabelecimento, olhou para o relógio. No horário, como sempre.
Era só mais um dia daqueles...

domingo, 31 de outubro de 2010

Pinóquio

Lá estava ele. Sentado ao canto de uma prateleira, empoeirado e com lascas de madeira acumuladas no topo de seu nariz recém-feito.
Um sopro gelado fez suas roupas esvoaçarem, mas não sentia frio. Pelo contrário, sentia um calor muito grande de dentro de si. Era como se algo importante estivesse para acontecer.
Sorriu um sorriso torto de boneco.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Mais um

Amar? Quisera ser amado. Mas só querer não bastava.
Pra que medir as palavras quando eram elas o maior equívoco? A mais fatal decisão?
Talvez antes não soubera o verdadeiro significado de seus próprios sentimentos. E ferira, e  fora ferido. Afinal, nada mais justo do que a vingança paga na mesma moeda. Mas não sentira a "mesma moeda" pesar igual. Parecia-lhe muito mais fria e cortante, e descia-lhe pela garganta, sem ao menos se importar com o ferimento que deixara.
Desolado, era a palavra certa. Ou ao menos imaginara que fosse. Isolado? Talvez.
Quem era ele, afinal? E de que isso importava?
Só queria ser amado. Só queria estar perto de alguém que o fizesse bem. Mas nem ele próprio o fizera.
Então era esse o seu fim? E que fim medíocre...
Se chorasse não se diria homem como tal. Mas quem proibiu aos homens o direito de chorar?
Afinal, não era perfeito. Era um humano qualquer...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Mais uma

Virou o copo vorazmente, o álcool desceu queimando garganta abaixo. Nunca se sentira tão vunerável assim.
Sentiu tontura, mas não devido à bebida. Quis correr, correr para bem longe. Fugir. Mas o som incessante das palavras ecoavam em sua mente, e se sentiu enojada.
Podia arrepender-se amargamente pelo resto da noite, mas ainda assim o dia chegaria, com o seu sol irritantemente faíscante. E se olharia no espelho temendo ver apenas uma tristeza indelével.
Lágrimas escorriam lentamente pelo rosto, como a acompanhar os gélidos pensamentos. A cabeça parecia querer se romper de tanta dor e nostalgia. Tentou sorrir ao pagar a bebida, como se estivesse agradecendo pela compreensão daquele líquido seco e amargo.
Levantou-se e saiu. Era só mais uma daquelas mulheres...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O dia marcado para a morte

A arma apontada para sua cabeça, o cano frio e um simples pensamento: "Nada vai acontecer".
Era sua mão que a segurava? Talvez... mas não podia senti-la entre seus dedos. Suava, tinha medo.
Um estrondo. A dor aguda subia ao cérebro, lhe fez cair ao chão. Os pensamentos se misturaram junto ao sangue que escorria farto em seu lóbulo esquerdo. Um vazio lhe assombrou a mente. Por um segundo pôde perceber que estava sozinho. Morrendo...

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Amizades?

Amizades são coisas tão confusas e banais que chego a pensar que às vezes não vale a pena ter amizade alguma...
Talvez isso aconteça porque eu sou um pouco autoritária e não aceito a opinião de ninguém...
Tenho convivido com as mesmas pessoas nestes quatro anos. Não são exatamente as mesmas que eu conheci, já que a cada dia que passa somos pessoas diferentes... Mas possuem o mesmo nome, sexo, possíveis valores e crenças. E no entanto, essas mesmas pessoas não me conhecem do jeito que eu realmente sou, não sabem das coisas que eu gosto, das coisas que eu não gosto e das coisas em que eu acredito... e creio eu que nem interesse em saber elas tem...
Não falo dessas coisas, pois falar sobre isso é perda de tempo. Sinto que é, embora não seja... Sinto, pois a cada vez que tento falar algo de mim, alguém se sobrepõe e ignora tudo o que disse.
As pessoas só dão importância a você quando você realmente aparenta problemas, está com cara de choro, ou algo do gênero... Mas saber de coisas tão banais como o que gosto e o que não gosta, são informações que não fazem diferenças nessas "amizades"...
É como se tudo o que você fala e/ou expressa não fizesse nenhum sentido para a vida destes "amigos".
Talvez seja pedir demais.
Você ouve, escuta, todo o tipo de fala... piadas, fofocas, reclamações, críticas. Mas quando você tenta falar, é com ignorância ou reprimendas que te respondem.
Ouvir reclamações e críticas o tempo todo, você deve ouvir. Mas reclamar e criticar não compete a você... compete aos seus queridos "amigos"... tentar criticar algo ou alguém é injusto, você não deve fazer isso...
E quando todo mundo resolve sair, mas simplesmente esquecem de você... Esquecem ou te ignoram?
Como é ver fotos em que todo mundo sai junto menos você? Seus amigos já pararam para pensar como é se sentir de fora? Seus amigos já pararam para refletir o quanto fazem questão de mostrar esse "esquecimento"?

Para se enquadrar num grupo, fazer parte de um círculo social, ser incluído numa roda de amigos é necessário seguir um padrão de comportamentos e crenças, ou senão fingir que acredita em coisas que os outros acreditam... só pra não ficar de fora!
Só pra não ser o esquisito!
Só pra não ser o excluído!
É preciso ser como os outros... se ignorar...

Por isso, simplesmente eu acredito que amizades sejam coisas inúteis e banais.
As relações que a gente vive na sociedade não podem ser chamadas de amizades, e sim de contratos de sociedade... a gente convive bem, fingindo o que não é e o que não acredita.
E tais contratos tem prazo de término!

L. Inafuko ;}
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Mais devaneios: http://terrorismosuicida.wordpress.com/tag/padrao/

sábado, 28 de agosto de 2010

Não me deixe

E foi difícil que pudesse enxergar a verdade. Nunca pensou que fosse doer tanto, apenas fingia não se importar. Mas era triste... tão desolador que só tinha vontade de chorar e se esconder do mundo.
Os sentimentos eram armas fatais. Deturpou o amor em ódio e a falsidade tornou-se solidão. Sua total dependência resumia sua vunerabilidade.
Não era tão forte quanto parecia, talvez nem quisesse aparentar. Era só uma questão de princípios. Os princípios que a fizeram ser assim, medíocre e orgulhosa demais para aceitar que vivera seus 17 anos em completa solidão.
Mas ninguém poderia dizer que estava sozinha demais para ser vencida. E as amizades que cultivara? E todas aquelas ocasiões em que os risos se transformavam na mais completa felicidade? Não... a solidão não era aceitável.
Tentou lembrar-se dos motivos que a fizeram "ídola". Era bela? Não antes, talvez agora o fosse. Era simpática? Era admirável? Não... sua própria consciência a respondia.
Tudo o que fora se resumia a uma única palavra: desprezível.
Era o senso comum, era o que todos queriam que fosse. Mas não era a única que se sentia assim. Era só mais uma, naquela multidão de descontentes. Era simples e vazia.

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obs.: mais uma de minha avaliações sobre comportamentos alheios :x

sábado, 14 de agosto de 2010

Lembranças de uma janela

Um pequeno brilho no horizonte marca o começo de um novo dia.
Pouco a pouco, uma imensidão de claridade vai cobrindo todo o quarto branco, "Mais um dia..." pensou. Não sabia se deveria ficar feliz ou cair em profunda tristeza, ainda tinha o dia todo pela frente mas já imaginava o anoitecer, o brilho da Lua, as estrelas. "Não irá demorar muito para chegar." disse para si mesmo, enquanto se levantava da cama.
Um esforço extra para se locomover até o banheiro.
Sua cara estava pálida, mas já acostumara com sua fisionomia que o acompanhava há algum tempo. O banho de água fria em seu rosto o animava, trazia boas recordações.
Uma mulher chama seu nome.
Ele se vira e vê um par de olhos delicados e ternos. Envelhecida pelas rugas, já não possuía aquele físico vigoroso de anos atrás, cansada talvez mais pela árdua rotina do que pelas próprias rugas. Trazia consigo uma pequena bolsa branca já muito conhecida no quarto. "Está na hora." falou.
Trocou de roupas e andou sala à fora, mas antes deu uma pequena olhada através da suja janela, "Quando eu voltar, eu limpo essa janela." fora sempre o mesmo pensamento desde que chegou pela primeira vez, mas... nunca estive suja.
Nunca imaginei um garoto tão forte... Fora a última vez que o vi após longos 13 meses.
O quarto, agora vazio, absorvia a luz do luar.
A janela teve muitos telespectadores. Todos um dia saíram e nunca mais voltaram, não foi diferente e nunca será. Assim foi para o senhor de 70 anos, para a velha de 85, para o jovem de 27, e assim também foi para o garoto de 8 anos que havia morado por 13 meses naquele quarto. Apenas a janela ainda persiste. O único contato de seus prisioneiros com o mundo externo, logo terá mais um telespectador.

-- RHN --

segunda-feira, 8 de março de 2010

O dia marcado para a morte

Não era tão tarde assim, pensei.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Ao cair da noite

O dia, então, partia mais uma vez. Riscos vermelhos, cor de sangue, cortavam o sereno azul que se apagava entre as estrelas.
Era como se uma sombra negra invadisse as entranhas de sua alma. O ar que respirava lhe envenenava o coração.
Por um momento sentiu frio, e o medo cobriu-lhe todo o tipo de sentimento que pudera ter. Estava vazio, e já não mais cantava. Era apenas uma alma em decomposição cujo corpo ainda não havia se desintegrado.
Lembrou-se dos sorrisos, da troca de olhares e de todas as palavras que acreditara ser de um amor recíproco. Estivera enganado ao pensar que alguém como ele seria o responsável por causar paixão à uma doce menina. A doce menina farsante, que fingiu amar o desconhecido. A garota calculista que armou um labirinto de rosas, onde apenas sangue brotaria de suas pétalas.
Estava dilacerado e fraco demais para pensar.

A noite, então, desabou em escuridão.
Não saberia dizer quanto tempo estivera ali, parado no mesmo lugar com sua mesma expressão dura e cruel marcando-lhe o rosto melancólico.
Queria poder tirar-se dali, do seu pequeno mundo conturbado, de suas fracas ilusões e sonhos impossíveis. Sua cabeça pesava-lhe as idéias.
Quis chorar, e chorou. Talvez de uma forma como nenhum outro humano o faria. Chorou como choram os deuses pela raça dos perdidos.

Ao cair da noite...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Ao cair da noite

Sorriu. Lá estava o jovem rapaz a se imaginar. Sonhava com suas histórias de amor, seus sentimentos afloravam à pele, seu olhar tudo demonstrava e nada deixava escapar.
Caminhou pelas ruas vazias, trôpego, estava embriagado de amor. Suas idéias não respondiam aos seus atos, era como estar flutuando por entre nuvens de algodão. Deixou-se levar pela música que lhe roubava a lucidez, não queria mais pensar em dor e tristeza.
Chegaria em casa, e ligaria para a amada... não! Talvez devesse partir agora mesmo, rumo ao amor. Talvez se encontrariam sob o olhar da lua, e se amariam eternamente em um sonho de uma noite de verão. Talvez...
Eram tantos "talvez", que fosse melhor esperar. Esperaria a razão e agiria com a certeza de fazer a coisa certa.

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continua...