sexta-feira, 1 de março de 2013

Nós

Ela deixou cair sua agenda no chão. Percebeu que as folhas que despencaram eram notas um tanto quanto antigas.
Eram desenhos, cartas, tolas mensagens, números, contas, anotações. Eram muitas incógnitas e símbolos que representavam muita coisa e ao mesmo tempo nada.
Ela deixou-se distrair por entre as palavras. Por que guardou todas elas?
Sua mente divagava entre lembranças e expectativas. Não queria precisar de tantos motivos. Queria simplesmente pegar todas as folhas, amassá-las e atirá-las dentro do primeiro cesto de lixo que encontrasse. Queria simplesmente deixá-las caídas no chão, para que se algum curioso percebesse, as tomasse para si e fizesse daquelas singelas confissões sua própria história, seu próprio motivo.
Seus olhos fixaram-se no menor dos papéis, que continha a menor das palavras e sobretudo, a que mais lhe incomodava.
Nó.
Não se lembrava quem ou quando fizera essa nota. Não sabia nem o motivo para tal. Não havia história que recriasse o momento em sua imaginação. Mas era um incômodo.
Sentia como se o próprio nó estivesse à sua frente, não em palavra, mas em forma, objeto. Sentia que aquele nó não estava só à sua frente, mas à sua volta e dentro e si. Entalado na garganta. Prendendo seus pulsos. Segurando seu corpo para que não saísse do lugar.
Ela sorriu diante de tantas bobagens de sua imaginação. Sorriu cética de si mesma. Como era tremendamente tola...
Levantou-se levando consigo apenas aquela nota. Nó.
Sem querer, deixou agenda e desenhos, cartas, tolas mensagens, números e contas para trás.
Foi embora com o nó nas mãos.

Ao lado do nó ainda era possível enxergar uma marca de s apagada.
Ela perdeu o nós mas levou o nó consigo e sozinha.

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